É o pulsar do coração de uma pessoa, de um povo.
É uma expressão, um sentimento interior.
É o sentir da alma, do espírito, do sangue, da voz que canta sua dor, sua alegria, sua paixão , suas penas. Manifestação de um corpo que baila na mesma intensidade da emoção e personifica a todo momento, aquilo que está em suas raízes mais profundas e íntimas –
“um grito de liberdade que jamais será perdido”.
O flamenco é uma linguagem, uma cultura de projeção internacional. Espontâneo em suas origens, enuncia através do canto, do baile e do toque da guitarra sentimentos intensos e antagônicos. É a coluna vertebral de uma das mais antigas culturas mediterrâneas. Em suas “coplas” é crítico, misterioso, sensível, popular, sentencioso, dramático e religioso. Como expressão artística, o flamenco nos dá a dimensão daquilo que nomeamos dor, abandono, solidão, desprezo, que são angústias pessoais enfrentadas quotidianamente (admitimos sermos mortais, toleramos males do corpo, deixamos de ser amados, suportamos o desamparo , aguentamos a falta de apreço e as desconsiderações). É esta dor que não tem responsáveis, não tem solução, que está no fundo de toda e qualquer expressão artística e muito especialmente nas raízes do que é flamenco.
O flamenco nos dá a memória da dor, nos ajuda a decifrar o significado do desconsolo ao mesmo tempo que nos consola. Tudo isto porque nos faz compreender o que é a fraternidade, nos possibilitando perceber a dimensão daquilo que é humano. Todos os homens se agregam através da dor , não há nada que una mais as pessoas humanas do que uma lágrima.
É também ela que nos faz reativar do fundo do nosso coração um desejo enorme de viver, uma fúria de viver e seguir em frente. É este desejo de viver e a dor que nos persegue por toda vida, o que nos dá a medida da conquista da arte flamenca. O flamenco tem uma complexidade técnica e artística extraordinária, mas apenas o técnico não nos faz ser interprete desta arte. É preciso dar conta desta complexidade entre a técnica e a interpretação pois é nela que se instala a capacidade comunicativa, de opulência inigualável , contagiante que transcende para além do ritmo e da habilidade especial de executar “braceos” , taconeos e punteados”.
A expressão daquilo que é flamenco transcende seu interprete e sua técnica. A força artística do flamenco esta naquilo que é chamado “duende”. Difícil de explicar mas não impossível de ser percebido. O duende é algo que ultrapassa a técnica, algo que vai além da experiência adquirida. Todo grande artista, no momento que está emitindo o que é o flamenco, quer seja por baile, cante ou toque, lança para fora de si algo que é maior do que aquilo que lhe é próprio, algo que vai além daquilo que pôde armazenar, que tem muito mais experiência do que aquilo que ele está transmitindo. Quando o artista é capaz de comunicar tudo isto, então, é possível dizer que “ay duende” e somente assim podemos afirmar :
eso es flamenco !
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FLAMENCO
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